teoria crítica
Embora a expressão teoria crítica pudesse incluir toda e qualquer abordagem que questionasse as teorias/ideologias justificativas do statu quo, a noção de teoria crítica designa uma escola de pensamento que, tendo começado a perfilar-se nos anos 20 do século XX, mais precisamente em 1923, ficou conhecida como a teoria crítica da Escola de Frankfurt, que reuniu, desde a primeira hora e em torno da revista Zeitschrift fur Sozialforschung, uma panóplia de investigadores: Weil, Grunberg, Horkheimer, Grossman, Wittfogel, Marcuse, From, Adorno e Habermas, entre outros. Os fundadores e continuadores desta escola, visando desenvolver uma teoria da sociedade numa perspetiva crítica, tiveram nas suas origens e percurso fortes influências marxistas, em particular por parte de um ex-hegeliano convertido ao marxismo: Lukács. Porém, a teoria crítica é igualmente influenciada, quer pela dialética hegeliana, quer pela psicologia psicanalítica, nomeadamente de Freud. Representantes destacados desta escola, como Horkheimer, Adorno e, em menor medida, Marcuse, tomam alguma distância crítica em relação à versão oficial do marxismo e, num contexto de crise económica e forte movimentação política, elaboram uma síntese criativa, tendo em conta as referidas tendências, sobretudo o marxismo, mas incentivando a implementação de estudos empíricos.
A Escola de Frankfurt foi o alvo preferido de ataque por parte do positivismo, cujas conceções, desde Comte a autores coevos como Koenig, os teóricos críticos, por sua vez, não pouparam nas suas contundentes críticas. A teoria crítica começa por formular uma série de dicotomias: ciências da natureza (Naturwissenschaft) versus ciências do espírito (Geisteswissenschaft), comunidade (Gemeinschaft) versus sociedade (Gesellschaft), intelecto (Verstand) versus razão (Vernunft), civilização versus cultura. Salvo a primeira distinção, retrabalhada pela Escola Histórica Alemã e por Weber, e a segunda, desenvolvida por diversos sociólogos (Tönnies; Durkheim; Weber), é sobretudo sobre as duas últimas dicotomias que os teóricos críticos, sobretudo Horkheimer/Adorno e Habermas, tecem cerradas críticas negativas à sociedade capitalista, sua racionalidade, civilização e reificação ideológica. Estes autores (salvo Horkheimer, na fase final da sua vida) aceitam a maioria das teses marxistas: a conceção materialista e dialética da História, o princípio da totalidade e a articulação do geral e do particular, a unidade do ser e da consciência, a teoria do valor, bem como o fetichismo da mercadoria, mas afastam-se do marxismo ou, pelo menos, dalgumas das suas versões oficiais ou dogmáticas, nomeadamente a teoria do reflexo - considerada uma relíquia do século XIX -, a não assunção da prática como critério de verificação do conhecimento, a atribuição do papel de vanguarda aos partidos comunistas, a não aceitação ou justificação da violência como meio de obtenção do poder e, sobretudo, após a consumação catastrófica do nazismo, por um lado, e da emergência do estalinismo, por outro, a descrença no potencial emancipatório da visão produtivista do progresso. Além disso, os teóricos críticos, ao recusarem o pressuposto positivista e até weberiano em torno da neutralidade axiológica, revelam-se defensores duma teoria crítica comprometida, opõem-se à separação entre teoria e método, entre compreensão e explicação, entre essência e fenómeno, entre teoria e valores ou entre teoria e arte, considerando esta uma preciosa fonte de compreensão da realidade. Na sua perspetiva antipositivista, além de denunciarem a sociedade "totalmente administrada", insurgem-se acerrimamente contra algumas das falácias correntes do positivismo: a substituição da objetividade do real pela consciência, a ideia de que os factos sociais falam por si, de que toda teoria da sociedade é uma forma de ideologia. Nas últimas décadas, o representante mais eminente da Escola de Frankfurt é Habermas, que, além de invocar a necessidade de articular os conceitos de trabalho e interação comunicativa, nomeadamente linguística, alerta para o facto de que a ciência e a tecnologia não constituem esferas social e políticamente neutras e podem até representar uma nova forma ideológica de legitimação do statu quo. Recentemente, em Portugal, a teoria crítica tem sido sustentada por Santos e colaboradores.
A Escola de Frankfurt foi o alvo preferido de ataque por parte do positivismo, cujas conceções, desde Comte a autores coevos como Koenig, os teóricos críticos, por sua vez, não pouparam nas suas contundentes críticas. A teoria crítica começa por formular uma série de dicotomias: ciências da natureza (Naturwissenschaft) versus ciências do espírito (Geisteswissenschaft), comunidade (Gemeinschaft) versus sociedade (Gesellschaft), intelecto (Verstand) versus razão (Vernunft), civilização versus cultura. Salvo a primeira distinção, retrabalhada pela Escola Histórica Alemã e por Weber, e a segunda, desenvolvida por diversos sociólogos (Tönnies; Durkheim; Weber), é sobretudo sobre as duas últimas dicotomias que os teóricos críticos, sobretudo Horkheimer/Adorno e Habermas, tecem cerradas críticas negativas à sociedade capitalista, sua racionalidade, civilização e reificação ideológica. Estes autores (salvo Horkheimer, na fase final da sua vida) aceitam a maioria das teses marxistas: a conceção materialista e dialética da História, o princípio da totalidade e a articulação do geral e do particular, a unidade do ser e da consciência, a teoria do valor, bem como o fetichismo da mercadoria, mas afastam-se do marxismo ou, pelo menos, dalgumas das suas versões oficiais ou dogmáticas, nomeadamente a teoria do reflexo - considerada uma relíquia do século XIX -, a não assunção da prática como critério de verificação do conhecimento, a atribuição do papel de vanguarda aos partidos comunistas, a não aceitação ou justificação da violência como meio de obtenção do poder e, sobretudo, após a consumação catastrófica do nazismo, por um lado, e da emergência do estalinismo, por outro, a descrença no potencial emancipatório da visão produtivista do progresso. Além disso, os teóricos críticos, ao recusarem o pressuposto positivista e até weberiano em torno da neutralidade axiológica, revelam-se defensores duma teoria crítica comprometida, opõem-se à separação entre teoria e método, entre compreensão e explicação, entre essência e fenómeno, entre teoria e valores ou entre teoria e arte, considerando esta uma preciosa fonte de compreensão da realidade. Na sua perspetiva antipositivista, além de denunciarem a sociedade "totalmente administrada", insurgem-se acerrimamente contra algumas das falácias correntes do positivismo: a substituição da objetividade do real pela consciência, a ideia de que os factos sociais falam por si, de que toda teoria da sociedade é uma forma de ideologia. Nas últimas décadas, o representante mais eminente da Escola de Frankfurt é Habermas, que, além de invocar a necessidade de articular os conceitos de trabalho e interação comunicativa, nomeadamente linguística, alerta para o facto de que a ciência e a tecnologia não constituem esferas social e políticamente neutras e podem até representar uma nova forma ideológica de legitimação do statu quo. Recentemente, em Portugal, a teoria crítica tem sido sustentada por Santos e colaboradores.
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Como referenciar
Porto Editora – teoria crítica na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-02-13 13:31:53]. Disponível em
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