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Voz Que Escuta
Obra póstuma, publicada em 1944 pela coleção Novo Cancioneiro, segundo o original do texto poético premiado nos Jogos Florais Universitários de Coimbra, em 1939. Reunindo apenas cinco composições, três das quais datadas do ano da sua morte, e atestando a possibilidade de conjugar, na poética neorrealista, desde os seus primórdios, intenção social com qualidade estética, a pequena obra realizada por Políbio Gomes dos Santos dá "a certeza de um poeta de real merecimento" (Namorado, Joaquim - prefácio a Voz Que Escuta, 1944). A consciência de uma morte próxima ou mesmo de viver numa situação limiar, atestada pelo uso do pretérito perfeito na primeira composição ("Chamam-me lá em baixo,/ São as coisas que não puderam decorar-me:/ As que ficaram a mirar-me longamente/ e não acreditaram", "Poema da Voz Que Escuta"), ou pelo apelo a uma companheira que venha desenhar com o poeta "o sofrimento/ dos últimos poemas consentidos", em "Vem, Dentre As Mulheres", a expressão da impotência para a ação, corroborada pelo uso do imperfeito do conjuntivo ou do modo condicional, na composição "Canção do Lago Secando" ("Ainda se eu/ [...] Pudesse ter no mapa mancha azul e portos/ E ser útil à navegação...// Finando-me abriria a justa e verdadeira causa/ À minha sede e à minha direção."), ou a composição de uma alegoria da sua vida como balão "Murchando,/ Poisando na água pantanosa/ De além", na última composição, tragicamente intitulada "Epitáfio", conferem ao sujeito poético uma visão dolorosamente lúcida sobre a realidade e sobre a sua condição. É esta perspetiva agónica que o dota de um dom visionário, em "Radiografia", considerado por Alexandre Pinheiro Torres um dos poemas maiores do neorrealismo (cf. p. 82,) e onde, lembrando O Sentimento Dum Ocidental de Cesário Verde, o autor funde a sua decomposição física com a putrefação material e humana da cidade.
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Porto Editora – Voz Que Escuta na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-10-15 22:17:15]. Disponível em
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