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Saiu-me uma bela peça, este detetive.
Há trinta anos, eu não sabia que o inspetor Jaime Ramos iria prolongar a sua vida – e a minha – até este ponto. O polícia que me acompanha desde essa altura em dez romances nasceu nas páginas deste livro. Eu precisava de um detetive com humor, sempre rezingão e zangado com o mundo (até ser cómico), menos melancólico do que o seu parceiro Filipe Castanheira, e que fosse uma espécie de portuense sem mestre. Por isso, Morte no Estádio foi verdadeiramente o meu primeiro passo.
É um romance alarmado pelo mundo do futebol mas que não se centra nesse cenário; as suas personagens vivem em redor do futebol, mas entram em Morte no Estádio como mulheres e homens numa encruzilhada, sempre à beira do abismo, confessando as suas fragilidades e escondendo tanto os seus desejos como as suas culpas. Pessimista e desajeitado, Jaime Ramos nasceu em Morte no Estádio, que é um livro de segunda adolescência. Na altura, o futebol interessava-me, mas não tinha ilusões sobre a sua importância na minha vida: era puro divertimento e ligação à tribo, cenário de paixões e de suspeitas.
Passado todo este tempo – trinta anos – tenho por este livro uma dedicação adolescente e amiga, e também nostálgica. Sem ele, eu não seria quem sou e não teria sido quem fui.
Esta versão é, aqui e ali, diferente da primeira. Porquê? Porque, na altura (quando ainda não havia telemóveis nem «polícia científica»), ainda não sabia que Jaime Ramos ia ser uma companhia duradoura. Saiu-me uma bela peça, este detetive.
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Francisco José Viegas