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A coleção "O Mundo da Inês" foi publicada pela primeira vez em maio de 2018, e ainda hoje me sinto muito feliz e surpreendida pelo sucesso que tem alcançado. Pergunto-me, muitas vezes, a que se deve a sua popularidade, e chego à conclusão de que só pode ser porque responde, de alguma forma (ou várias) aos desejos, aos gostos e às expectativas de quem a lê.
Talvez isso se prenda com o facto de o contexto temporal ser a atualidade, de o contexto social e geográfico ser o de Portugal e, ainda, com o facto de a protagonista ser uma jovem com a mesma idade do público a que se destinam os livros. Mas... que idade é essa? Na verdade, são várias! Sim, porque a Inês tem 12 anos quando a sua história começa a ser narrada, no livro 1, mas já tem 14, quando chegamos ao livro 12, e festejará o seu 15.o aniversário no próximo volume, a publicar ainda em 2023.
Alguns amigos perguntaram-me se não seria arriscado desenvolver uma série de livros sobre uma personagem que vai crescendo, uma vez que isso significa que, mais tarde ou mais cedo, ela estará numa faixa etária com a qual os leitores já não se identificam. De facto, é um desafio escrever uma coleção de livros destinados a um público infantojuvenil nestes moldes, mas talvez esse seja um dos segredos da sua popularidade. E é original e interessante, parece-me, que a própria coleção tenha evoluído – acompanhando, assim, o crescimento da protagonista–, tendo agora uma nova e refrescante temporada, intitulada "O Novo Mundo da Inês", com um aspeto mais juvenil, menos infantil.
No primeiro volume da nova temporada, a história da vida da Inês e dos seus amigos continua, portanto, a partir do ponto em que fica no 12.o livro da primeira temporada. Inês e os colegas frequentam agora o 9.o ano, mas alguns dos seus amigos estão já no 10.o. Isto significa que se discute, por exemplo, qual é a “melhor” área para prosseguir estudos no ensino secundário, que se conversa sobre tatuagens e a necessidade de autorização parental para as fazer e que se reflete seriamente sobre o problema da violência no namoro – temas que, naturalmente, não teriam lugar nos primeiros volumes da coleção.
Ainda relativamente ao crescimento das personagens, devo dizer que os leitores mais jovens a quem perguntei se gostariam de continuar a ler estes livros, caso a Inês se tornasse adulta, me responderam que sim, sem qualquer hesitação ou reserva. E é natural que sintam curiosidade em relação à vida que alguém como eles poderá ter mais adiante, terminado o seu percurso escolar e chegada a altura de tomar aquelas decisões que os jovens já percebem serem muito importantes na vida de qualquer pessoa: tirar ou não um curso superior, que curso escolher, quando e como procurar emprego, casar ou não, ter filhos ou não, e outras do género, características da passagem para a vida adulta.
Portanto, por mais desafiante que seja, considero que a minha escolha foi feliz, ao ter optado por narrar a história de uma menina que vai crescendo com os/as leitores/as. Deste modo, o percurso da protagonista torna-se mais dinâmico e credível, e ela acaba por ser uma personagem mais humana e verosímil do que aquelas que não mudam nem envelhecem.
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Sara de Almeida Leite