Conta a lenda que o arquipélago dos Açores é o que hoje resta de uma ilha maravilhosa e estranha. Vivia nessa ilha um rei que lamentava não ter filhos. Tal dor tornava-o amargo e cruel.
Uma noite, desceu uma estrela muito brilhante dos céus que aos poucos se foi materializando numa bela mulher. Esta prometeu ao rei uma filha bela como o sol, mas impôs algumas condições: desde logo, o rei teria de deixar de ser cruel e passar a ser paciente.
Teria ainda que construir um palácio, rodeado por sete cidades, cercadas por muralhas de bronze que ninguém poderia transpor. A princesinha teria que ficar aí guardada durante trinta anos, longe dos olhos e do carinho do rei.
O rei aceitou logo o desafio. No entanto, decorridos 28 anos, não aguentou mais. Apesar de ter sido avisado que morreria e o seu reino seria destruído, dirigiu-se às muralhas para as destruir. Assim que começou, a terra estremeceu e o mar engoliu a ilha.
No fim de tudo, restaram apenas as nove ilhas dos Açores e o palácio da princesa, transformado agora na Lagoa das Sete Cidades. A lagoa dividiu-se em duas: uma verde, como o vestido da princesa, e a outra azul, da cor dos seus sapatos.
Em tempos que já lá vão, no Castelo de Almourol, vivia D. Ramiro, um nobre godo, com a sua mulher e uma filha única chamada Beatriz. D. Ramiro era um chefe guerreiro com fama de impiedoso e cruel.
Um dia, no caminho de regresso a casa, já próximo do seu castelo, avistou duas belas mouras, mãe e filha, transportando água numa bilha. D. Ramiro pediu-lhes de beber, mas as mouras assustaram-se e deixaram cair a bilha de água que se partiu.
Furioso, D. Ramiro matou-as com a sua lança. Antes de morrer, no entanto, a moura mais jovem amaldiçoou o cavaleiro cristão e toda a sua descendência. Entretanto, o irmão da rapariga moura havia assistido a tudo, horrorizado.
O jovem mouro jurou vingar-se da morte das mulheres da sua família, pelo que D. Ramiro o levou como escravo para o castelo, onde, mais tarde, o pôs ao serviço de sua filha Beatriz.
Passados alguns anos, cumpriu-se a primeira parte da vingança: a mulher de D. Ramiro morreu envenenada. Este, cheio de desgosto, resolveu ir combater os infiéis deixando Beatriz à guarda do mouro. Beatriz e o mouro, entretanto, apaixonaram-se perdidamente.
Um dia, D. Ramiro voltou ao seu castelo acompanhado pelo pretendente à mão da sua filha. Perante a situação, o mouro resolveu contar a Beatriz a história da sua desgraça e as juras de vingança.
A lenda conta que Beatriz e o mouro desapareceram e que D. Ramiro morreu pouco depois cheio de remorsos. Diz-se também que, na torre do castelo, no dia de S. João, ainda aparecem as almas do mouro e de Beatriz, com D. Ramiro de joelhos a pedir eterno perdão pelos seus crimes.
A localidade de Pombeiro da Beira tem na sua história uma disputa entre três rios: o Mondego, o Alva e o Zêzere, todos nascidos na Serra da Estrela.
Um dia, os três envolveram-se numa grande discussão sobre quem seria o mais valente. Resolveram combinar uma corrida para acabar com a discórdia: quem chegasse primeiro ao mar seria o vencedor.
O Mondego levantou-se cedo e começou a deslizar silenciosamente para não atrair as atenções. Passou pela Guarda e pelas regiões de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim e pela Raiva, onde se fortaleceu junto dos ribeiros seus primos, chegando por fim a Coimbra.
O Zêzere, que estava atento, saiu ao mesmo tempo que o seu irmão. Oculto, por entre os penhascos, foi direito a Manteigas, passou a Guarda e o Fundão, mas logo depois se desnorteou e, cansado, veio a perder-se nas águas do Tejo.
O Alva passou a noite a contar as estrelas, perdido em divagações de sonhador e poeta. Quando acordou era já muito tarde, mas ainda conseguia avistar os seus irmãos ao longe. Tempestuoso, rompeu montes e rochedos, atravessou penhascos e vales, mas quando pensava que tinha vencido deparou com o Mondego, no momento em que este, já adiantado, chegava ao mar.
O Alva ainda tentou expulsar o seu irmão do leito, debatendo-se com fúria e espumando de raiva, mas o Mondego engoliu-o com o seu ar altivo e irónico.
Este lugar onde os dois rios lutaram ficou para sempre conhecido como Raiva, em memória da contenda entre os dois irmãos.
Era alcaide em Montemor-o-Velho um viúvo austero que tinha uma única filha. O alcaide protegia a filha dos olhares de todos como se fosse o maior tesouro do mundo.
Um dia, condenou à morte um dos seus fiéis cavaleiros só porque se apaixonou por ela. Quando a jovem soube da tragédia em que involuntariamente estava envolvida, ainda tentou interceder mas o pai permaneceu insensível às suas súplicas. Sem consentimento, a jovem resolveu visitar o cavaleiro nas masmorras. Assim que o viu, apaixonou-se também por ele e ambos fugiram do castelo.
O pai mandou capturá-los e ficou furioso quando soube que tinham casado. Então, por vingança, resolveu dar-lhes uma prenda maldita: duas arcas, uma com ouro e a outra com peste.
O amor dos dois, no entanto, era tão grande que fugiram do louco alcaide, deixando para trás as duas arcas. Nunca ninguém ousou abrir essas arcas, que ainda hoje estão enterradas nas muralhas do castelo de Montemor-o-Velho.
Viriato, que começara por ser pastor dos montes Hermínios, foi o grande líder da revolta lusitana contra os invasores romanos. A sua coragem e destreza eram tão grandes que, com um efetivo de homens muito inferior ao poderoso exército de Roma, conseguiu derrotar várias vezes os romanos.
Com o tempo, o exército de Viriato cresceu, chegando a formar-se um corpo especial de guarda a Viriato, os Suldórios, constituído apenas por voluntários dispostos a morrer por ele.
Um dia, ao acampamento de Viriato, chegou um jovem loiro, de olhos azuis e de aparência frágil, que se dispunha a oferecer-se como voluntário para guarda a Viriato. Foi recebido, com certa troça, por parte de Viriato, que não acreditava muito nas suas capacidades como guerreiro; contudo, depressa mudaria de opinião.
Fazendo sempre questão de combater ao lado do grande chefe, o jovem voluntário revelou-se um extraordinário soldado, leal e dedicado, impressionando Viriato. Muitas vitórias se sucederam até que, num período de tréguas, Viriato casou com a sua amada Vanídia e, um dia, levou-a à tenda do seu suldório preferido para lho apresentar.
Nesse encontro, a palidez do jovem e frágil soldado era notória e quando Vanídia lhe pediu que fosse tão amigo dela como o era de Viriato, o jovem suldório respondeu que a sua dedicação pelo chefe lusitano era tão grande que não havia lugar para mais nenhum sentimento no seu coração.
Passados alguns anos, os romanos, que não conseguiam vencer Viriato com uma luta leal, procuraram entre o seu exército um traidor que o apunhalasse a troco de dinheiro e lhe cortasse a cabeça para que fosse entregue ao cônsul romano.
Mais tarde, os soldados lusitanos foram encontrar o jovem suldório abraçado ao corpo decapitado de Viriato, chorando desesperadamente. A dor e a indignação geral instalou-se e foi realizado um funeral solene, durante o qual o corpo do herói seria queimado.
Quando já se erguia uma grande fogueira, os soldados de Viriato quiseram escolher o seu sucessor como era de tradição. Todos apontaram para o frágil e louro soldado que, sem uma palavra, e de cabelos soltos ao vento, se levantou e se aproximou da fogueira, onde o corpo de Viriato ardia.
Lentamente, perante todos, despiu a armadura e as roupas que trazia. Os lusitanos verificaram, com espanto, que o soldado era afinal uma bela mulher que confessou ter-se disfarçado para poder estar perto do homem que amava até à morte.
A mulher, que tinha vivido para Viriato e cujo nome se perdeu no tempo, saltou para a fogueira e nela morreu, junto ao grande amor da sua vida.
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