Animais Sagrados do Antigo Egito
Desde sempre os Antigos Egípcios tinham uma relação de proximidade e empatia com os animais, quer para os caçar, quer por os temer, quer pelo serviço nos campos ou o seu valor alimentar.
Bovinos, caprinos, ovinos, muares, cavalos, porcos ou aves de criação estavam há muito domesticados e no universo e quotidiano egípcios, que estavam também familiarizados com os animais selvagens ou exóticos, como leões (e outros felinos, como leopardos e chitas), serpentes, babuínos, girafas, importados do Sul, ou crocodilos, que abundavam ao longo de todo o Nilo
Os animais não eram vistos como deuses, não o eram teologicamente, diga-se, embora tardiamente tenham tendido para tal. Foram quase sempre, essencialmente, representações ou formas de manifestação de deuses. Daí a sua mumificação e preservação em santuários, onde existiam recintos fechados com alguns espécimes vivos, dada a sua sacralidade.
Depois de 700 a. C., essa tendência de veneração das formas zoomórficas dos deuses acentuou-se. Répteis, mamíferos, peixes ou aves, como alguns insetos, passaram a ser reverenciados como manifestações zoomórficas de deuses, como o íbis (consagrado ao deus Tot) ou o falcão (relacionado com Horus ou Osíris), ou como representação das divindades, como o babuíno cinocéfalo (cabeça de cão) de Tot, o gato e a deusa Bastet, o crocodilo de Sobek ou a vaca de Hathor, a leoa de Sekhmet, a porca de Nut, o hipopótamo de Taueret, não esquecendo o touro de Ápis em Saqqara, depois helenizado na forma de Serápis.
Uma das representações zoomórficas de deuses mais famosas no Antigo Egito era a de Anúbis (Inpw, em egípcio), o cão selvagem (não o chacal, que parece não ter existido no reino dos faraós) protetor das necrópoles, deus dos mortos, relacionando-se também com a mumificação ou embalsamamento dos defuntos. Khnum, um deus muito importante, era representado por um carneiro. A cobra era também um animal venerado e respeitado, sendo o ba do deus Apopis, que ameaçava o deus-sol na sua viagem ao submundo.
Outras divindades serpentiformes eram as deusas Uadjit, Renenutet e Meretseguer. O escaravelho era também venerado, como representação animal de Ré na sua forma matinal de Khepri. De igual modo, recorde-se o escorpião, forma animal dos deuses Serket e Shed. A rã era a animalização da deusa Heket. E porque não recordar ainda o célebre oxirrinco, um peixe que devorou o falo de Osíris e a ele ficou ligado.
Os cultos dos animais sagrados eram tutelados e zelados por irmandades sacerdotais consagradas a cada um deles, cuidando dos vivos e procedendo à sua mumificação e rituais funerários. Em relação a Ápis e a outros bois (ou touros) sagrados, como Bukhis (culto em Iunu-Montu, hoje Armant) ou Mnevis (touro sagrado considerado um ba, “poder” ou manifestação física do deus-sol de Heliópolis, Ré-Horakhty, e do deus-sol Ré, em geral), por exemplo, o enterramento era um cerimonial muito complexo, envolvendo rituais, encenações e equipamentos funerários idênticos a um funeral real.
Já os íbis e falcões, por exemplo, eram doados como oferendas votivas, além de que muitas das suas mumificações eram colocadas em potes ou vasos de madeira ou cerâmica, devidamente selados. Os peregrinos compravam animais sagrados aos sacerdotes, nos seus santuários. Depois, pagavam-lhes pelo sacrifício, embalsamamento e cerimónia fúnebre, o que consideravam um ato de absoluta piedade, mas que conferia avultadas e crescentes rendas aos santuários e ao clero do deus. Estas cerimónias funerárias decorriam em galerias subterrâneas, em complexos funerários, como em Saqqara ou Tuna el-Gebel, por exemplo. Os touros consagrados a Ápis ou Bukhis, bem como suas progenitoras, eram cada um deles colocado num magnífico hipogeu (câmara funerária subterrânea), em sarcófagos individuais em granito. Outros exemplos de culto e consagração religiosa de animais são os babuínos sagrados enterrados em urnas de madeira colocadas em nichos de pedra, em galerias próprias.
Estes cultos a animais aumentaram de forma expressiva no Império Novo (c. 1560-1070 a. C.), atingindo o apogeu na Época Baixa (664-332 a. C.), quando as peregrinações, oferendas e votos com eles relacionados eram economicamente importantes. A Necrópole de Animais Sagrados a norte de Saqqara é um dos centros de culto mais importantes do Antigo Egito e tem sido sistematicamente escavada desde os anos 60 do século XX, com particular destaque na década de 90, quando se avançou na definição cronológica das galerias com urnas de animais e também nas pesquisas em história genética de certos animais, como primatas (babuínos, macacos), a partir das suas mumificações.
Para além de Saqqara, também outros centros de culto ligados a animais sagrados existiram no Egito, de que se destacam Mendes, Herakleópolis Magna, Esna ou ilha Elefantina (culto ao carneiro, associado ao deus Khnum), os gatos sagrados em Tell Basta (Bubástis ou Per-Bastet) ou Beni Hassan, bois Bukhis em Iunu-Montu (ou Armant), a vaca sagrada Hathor em Dendera, além dos crocodilos em Medinet el-Fayum (Crocodilópolis) ou Kom Ombo.
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