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cinema cómico
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Sendo um dos géneros literários e teatrais mais antigos do mundo, a comédia não podia deixar de estar presente no cinema desde sempre. Seguindo as tradições do teatro clássico erudito e de vaudeville, o cómico chegou ao cinema mudo e depressa se integrou nas regras do sonoro. A variedade de formas e estilos abrange desde a farsa e a paródia até à sátira e à tragicomédia, exprimindo-se de forma sofisticada ou vulgar. O cinema cómico dos primeiros tempos vive, em geral, à volta de um ator-personagem, como Charlot ou Laurel e Hardy, ou de um ator cómico que interpreta várias personagens, como é o caso de Jerry Lewis. Se a primeira cena cómica do cinema está no filme Mauvaises Herbes (O Regador Regado, 1896), dos irmãos Lumière, o primeiro ator cómico foi o francês Gabriel Leuvielle, mais conhecido por Max Linder que, de 1905 a 1914, rodou mais de cem filmes, muitos dos quais se perderam. A comédia apoia-se numa figura de estilo cómico: o gag, que se pode definir como um chiste, ou uma tirada cómica, que pode ser visual ou fazer parte de um diálogo e que pode mudar o curso da ação ou denunciar o que há de mais ridículo numa determinada situação. O gag veio para o cinema como uma herança do teatro burlesco e do music-hall. Um exemplo de gag, podemos encontrá-lo em Charles Chaplin, um dos primeiros atores cómicos do cinema de fama mundial, que conservou para a posteridade o nome de Charlot, em filmes como The Champion (O Campeão, 1915), The Gold Rush (A Quimera do Ouro, 1925), City Lights (Luzes da Cidade, 1931), Modern Times (Tempos Modernos, 1936) ou The Great Dictator (O Grande Ditador, 1940). Em A Night at the Opera (Uma Noite na Ópera, 1935), Groucho Marx prepara-se para cortar as compridas barbas de três aviadores adormecidos, acabando por perseguir alegremente uma borboleta que tinha saído de uma das barbas. Os irmãos Groucho, Chico e Harpo Marx desenvolveram um tipo de humor único, absurdo, disparatado e genial em filmes como Duck Soup (Os Grandes Aldrabões) (1933), A Day at the Races (Um Dia nas Corridas, 1937) ou A Night in Casablanca (Uma Noite em Casablanca, 1946). Harold Lloyd, em The Freshman (O Maricas, 1925), Buster Keaton, em Go West (O Rei dos Cowboys, 1925), Harry Langdon, em Boobs In The Woods (1925), Stan Laurel e Oliver Hardy, os famosos "Bucha Estica", em Flying Elephants (1927), Cary Grant, em Arsenic and Old Lace (O Mundo É Um Manicómio, 1946), ou Jack Lemmon, em Some Like It Hot (Quanto Mais Quente Melhor, 1959), não deixaram de utilizar o gag, que acompanhou a evolução do cinema cómico. Mae West, a estrela que se tornou um ícone sexual, participou em cerca de dez filmes cómicos, relegando, aos 78 anos, para segundo plano, Raquel Welsh em Myra Breckinridge, 1970, de Michael Sarne. Em Les Vacances de M. Hulot (As Férias do Sr. Hulot, 1952), Mon Oncle (O Meu Tio, 1958) ou Trafic (Sim, Sr. Hulot, 1970), de Jacques Tati, Hulot mais do que um cómico em si mesmo faz-nos ver o que há de mais cómico no mundo e nas pessoas, enquanto que Jerry Lewis atrapalha menos o mundo do que o mundo o atrapalha a ele em filmes que marcaram a sua época como Cinderfella (Cinderelo dos Pés Grandes, 1961). Igualmente famosos foram o italiano Totó e o mexicano Cantinflas (Mário Moreno), Bud Abbott e Lou Costello, mas a originalidade e a frescura do cinema cómico mudo não seria igualada posteriormente. Salvo as exceções dos irmãos Marx, de Hulot, Jerry Lewis, Totó e Cantinflas, os filmes, a partir dos anos 30, ressentiram-se da dificuldade em fazer rir. O grande mestre Alfred Hitchcock realizou uma única comédia: Mr. & Mrs. Smith (Sr. e a Sra. Smith, 1941). Blake Edwards, em The Party (A Festa, 1968), faz referências explícitas aos filmes de Laurel e Hardy. Frank Capra foi realizador de algumas das melhores tragicomédias de sempre, a partir dos anos 40, com Meet John Doe (Um João Ninguém, 1941), It's a Wonderful Life (Do Céu Caiu Uma Estrela, 1946), A Hole in the Head (Tristezas Não Pagam Dívidas, 1959) ou Pocketful of Miracles (Milagre por um Dia, 1961). Mel Brooks teve uma obra interessante como realizador e ator em High Anxiety (Alta Ansiedade, 1977) ou History of the Wordl: Part I (História do Mundo, 1981), entre outros. De realçar é também o trabalho do realizador italiano Dino Risi, especialmente Il Sorpasso (A Ultrapassagem, 1962), que demonstra uma grande sensibilidade e astúcia na evolução da história. Outros realizadores de relevo no cinema cómico são Ernst Lubitsch, Howard Hawks, Leo McCarey, Gregory La Cava e George Cukor que dão lugar a uma geração seguinte de talentosos profissionais. A comédia viria a ter um real contributo nos filmes de Pierre Etaix - Le Soupirant (O Apaixonado, 1962)) -, Stanley Kubrick - Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb (Dr. Estranho Amor, 1964) - e Woody Allen - Take the Money and Run (O Inimigo Público, 1969), Bananas (1971) ou Everything You Always Wanted to Know About Sex But Were Afraid to Ask (O ABC Do Amor, 1972). A tradição da comédia em Itália, com Dino Risi, Renato Castellani, Luigi Comencini, Eduardo de Filippo, Steno e Monicelli, entre muitos outros, chegou até aos nossos dias através de Roberto Benigni, com La Vita è bella (A Vida É Bela, 1997). A comédia foi um género abordado com sucesso tanto em Espanha, com Berlanga, como em Portugal, com António Silva, em A Canção de Lisboa (1933) de Cotinelli Telmo, Ribeirinho e Vasco Santana, em O Pátio das Cantigas (1942), realizado por Ribeirinho, O Pai Tirano (1941) e A Vizinha do Lado (1944), de António Lopes Ribeiro. No cinema moderno, a comédia trilhou outros rumos, sendo que as maiores individualidades humorísticas tiveram atrás de si uma escola televisiva. Foi assim com os Monty Python, em Life of Brian (A Vida de Bryan, 1979), e a geração de atores provenientes do programa televisivo Saturday Night Live: Eddie Murphy, Dan Aykroyd, Steve Martin, Bill Murray, Adam Sandler, Rob Schneider e Chris Rock.
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Porto Editora – cinema cómico na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-11-05 01:19:15]. Disponível em
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