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Domiciano
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Imperador romano (?-96 d. C.), reinou entre 81 e 96. Quando Tito Flávio Domiciano, o último dos Flávios, era ainda jovem, o pai Vespasiano impôs-lhe uma vida modesta, enquanto que o seu irmão Tito, mais velho, por seu turno, era educado na corte e vivia de forma mais faustosa. Ainda que privado de cargos e de prestígio, Domiciano não deixou de ser uma pessoa ambiciosa e sedenta de poder, embora, na opinião de seu pai, não tivesse capacidade para o gerir. Chocado com o comportamento arrogante e imprudente de Domiciano em Roma no turbulento ano de 69, Vespasiano - que não deixava de gracejar com o filho dizendo-lhe que estava disposto a designar o próximo imperador para que ele pudesse demonstrar o seu poder e prestígio - limitou-se a conferir-lhe um poder meramente formal, não o associando demasiadamente ao governo. Mas tudo indica que Domiciano não tenha deixado de aprender durante o império do pai os princípios e métodos para uma sábia e avisada administração, característica de toda a dinastia Flávia. Domiciano sucedeu a seu irmão Tito em 81 no Império, concluindo a seguir a conquista da Bretanha (atual Inglaterra), em 79-80, que seu irmão quase terminara. Na Germânia, anexou os Campos Decúmanos depois de 89, organizou provincialmente os territórios na margem esquerda do Reno e na Mésia, alcançando também acordos com outros povos, como os Dácos. O temperamento desconfiado e irascível de Domiciano - que desde sempre, por exemplo, teve um grande fascínio pela personalidade e governação de Tibério - e a sua cobiça do poder fizeram, todavia, com que o seu reinado fosse marcado por uma tirania intolerante. O poder, de facto, foi imediatamente concentrado nas suas mãos. Considerando-se deus e patrono supremo, aboliu todas as formalidades imperiais, que serviam para esconder o poder absoluto do príncipe. Subjugou cruel e violentamente quaisquer formas de contestação ou rebelião (como a do legado António Saturnino, em janeiro de 89, à frente de duas legiões revoltosas na Germânia), para além de ofender sucessivas vezes senadores e conselheiros (favorecendo os cavaleiros, sua base de apoio, em detrimento daqueles) e de ver suspeitos e inimigos por todo o lado. Esta espiral de suspeição e de repressão terminou com o assassinato de Domiciano em setembro de 96, perpetrado por membros da sua própria família, entre os quais a sua mulher, Domícia Longina, e instigado por senadores. A moralização imperial levada a efeito pelos imperadores que sucederam a Domiciano, foi sempre elogiada e louvada por todos quantos sobreviveram ao reinado de terror do filho de Vespasiano. Os seus excessos de absolutismo da sua governação tornaram-no comparável, principalmente pelos seus opositores, aos imperadores Calígula e Nero. Plínio e Tácito, dois grandes intelectuais romanos do seu tempo, criticaram-no duramente, embora não tenham deixado de lhe reconhecer uma certa habilidade governativa, marcada por boas opções em termos de conduta do Estado, por toda uma energia e empenho em resolver os problemas militares que afligiam sempre a fronteira do Danúbio, para além do rigor das suas medidas de natureza económica. Neste âmbito, por exemplo, deixou refrear a tendência de sobreprodução que fazia baixar os preços agrícolas, revelando perspicácia, como sucede também no estreitar de relações comerciais com a China e principalmente a Índia. As províncias foram também bastante urbanizadas no seu principado. Foi, na verdade, um homem de cultura e com rasgos de humanismo notáveis, como sucedeu quando proibiu a castração de escravos. Ainda que mórbido e impiedoso, egocêntrico e cruel, em termos de atitudes políticas ou públicas, face ao seu desrespeito pelas altas magistraturas romanas e de certo modo pela tradição, não deixou de ser um Flávio em termos de governação, afastando-se por isso do extravagante Calígula ou do "criminoso" Nero. Como Flávio, notabilizou-se também nas obras públicas: concluiu o fórum que seu pai, Vespasiano, começara; edificou o Palatino; e mandou construir o enorme Palácio Flávio. A sua obra mais célebre, contudo, foi o estádio com o seu nome, que está na origem da atual Piazza Navona, um recinto que desde Domiciano era usado para espetáculos naumáquicos.
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Como referenciar
Porto Editora – Domiciano na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-05-16 21:19:45]. Disponível em

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