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Guerra Civil do Camboja
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O Camboja, antigo protetorado francês, tornou-se independente em 1953. Durante quase duas décadas, os seus destinos estiveram nas mãos da família Sihanouk, sobretudo do príncipe Norodom que conseguiu, embora de forma precária, manter o país neutro durante o conflito no vizinho Vietname. Em março de 1970, altura em que o príncipe Norodom se encontrava no estrangeiro, o seu primeiro-ministro, Lon Nol, tomou o poder e transformou o Camboja numa república, deslocando o grosso do seu exército para as zonas fronteiriças para combater os Vietcong. Este facto originou a entrada de tropas norte-vietnamitas no país e, no seu encalço, as forças americanas e sul-vietnamitas. Desse modo, durante um par de anos, o Camboja foi um dos palcos da guerra do Vietname. Washington apoiava Lon Nol, sobretudo com a aviação, esperando com isso aliviar a pressão sobre o regime de Saigão. Entretanto, os guerrilheiros do Partido Comunista, os chamados Khmer Vermelhos, combatiam o regime de Lon Nol, no que eram ajudados pelos norte-vietnamitas e pelo príncipe Sihanouk, exilado na China.
Em abril de 1975, pouco antes de Saigão cair nas mãos dos norte-vietnamitas, os Khmer Vermelhos ocuparam Phnom Penh. O novo regime, liderado por Pol Pot, forçou a população urbana a integrar comunas rurais onde se punia com a morte a desobediência às ordens ou a revelação de pertencer à classe média. Os Khmer Vermelhos procuraram isolar o Camboja de toda e qualquer influência externa, aboliram o dinheiro, executaram opositores, e tentaram impor um modelo de comunismo semelhante ao tentado por Mao Tse Tung na China. A brutalidade do regime causou mais de 1 milhão de mortos e esse facto resultou num pretexto para Hanói, em dezembro de 1978, invadir o país e instaurar um governo-"fantoche" chefiado por Heng Samrin, presidente do Conselho de Estado, e Hun Sen, primeiro-ministro dos Negócios Estrangeiros e depois primeiro-ministro. Este governo restaurou alguns dos modelos de vida anteriores a 1970, como o budismo, mas não restaurou a monarquia. Os sobreviventes do movimento Khmer continuaram a resistir, particularmente na fronteira com a Tailândia. Uma frágil coligação, com Sihanouk como presidente nominal, conseguiu o reconhecimento externo mas internamente era bastante contestada. Em setembro de 1989, as tropas do Vietname retiram quase na totalidade do Camboja deixando Hu Sen numa posição bastante fragilizada. Em 1991 todas as forças em confronto assinam um tratado de paz sob a égide das Nações Unidas. Sihanouk, regressado entretanto, é nomeado presidente. Esporadicamente, a violência "khmer" continuava a fazer-se sentir e em 1992 a força de paz da ONU foi frequentemente atacada. Este regresso da violência explica-se, em grande medida, pela instabilidade política do país, fator nunca satisfatoriamente resolvido. Do mesmo modo, entre os Khmer Vermelhos grassava a desconfiança e a traição. Em junho de 1997 começou um brutal confronto entre os seus membros depois de Pol Pot ter ordenado a execução de alguns seguidores acusados de deslealdade. O antigo líder foi capturado por outros guerrilheiros Khmer que procuraram negociar a sua entrega ao Governo cambojano; no entanto, o colapso do movimento e os desentendimentos entre os partidos políticos impediram um julgamento internacional do ditador, entretanto falecido, acusado de genocídio e crimes contra a Humanidade.
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Como referenciar
Porto Editora – Guerra Civil do Camboja na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-04-23 06:05:13]. Disponível em

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