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José Anastácio da Cunha
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Matemático e poeta português, nasceu em 1744, em Lisboa, e morreua 1 de janeiro de 1787, na mesma cidade. 
Oriundo de uma família humilde lisboeta, filho de Lourenço da Cunha, pintor, e de Jacinta Ignes, estudou na Congregação do Oratório, não tendo, nesta altura, aprendido muito sobre matemática ou física, a despeito de estas áreas se tornarem, mais tarde, alvo da sua dedicação e estudo. Em 1763, optou por seguir, como voluntário, a carreira de oficial artilheiro, em Valença, o que lhe possibilitou o contacto com estrangeiros cultos, que Pombal contratava numa tentativa de reformar o exército.

Notado por vasta cultura científica e literária, Anastácio da Cunha foi nomeado por Pombal, em 1773, lente de Geometria na Universidade de Coimbra, tendo publicado vários estudos nas áreas da Matemática e da Mecânica. Todavia, a sua notoriedade não o impediu de ser levado ao Tribunal da Inquisição, em 1778, pelo convívio suspeitoso, em Valença, com oficiais ingleses, de credo protestante e pelo deísmo voltairiano que transparecia dos seus versos.

Manuscrito de um exercício matemático de J. A. da Cunha (Arquivo Nacional da Torre do Tombo)
Foi preso, após ter confessado perigosas leituras (Hobbes, Voltaire, Rousseau) e desvios da ortodoxia em que fora educado. A pena (reclusão no convento oratoriano das Necessidades e, depois, desterro em Évora) foi apenas cumprida parcialmente, dado que conseguiu o perdão por um auto de fé, descalço e em hábito de penitência. Após três anos de castigo, era já professor da Real Casa Pia do Castelo de S. Jorge, em Lisboa. Não obstante a recuperação da sua liberdade e a retoma dos seus estudos e pesquisas, José Anastácio da Cunha, debilitado pelo cumprimento da pena, morreria poucos anos depois.

Foi o autor de Princípios Matemáticos, uma obra que, editada postumamente, em 1790, demonstra, com rigor, as leis que regem o cálculo matemático, para além de incluir o estudo de princípios relacionados com geometria e álgebra. É considerado por muitos autores como o precursor da matemática contemporânea.

A sua obra literária, de pendor nitidamente pré-romântico, com um discurso percorrido de interrogações e exclamações, inspirou-se na fonte literária inglesa - além de Anacreonte, Horácio, Racine, Pope, traduziu Shakespeare, Milton e Otway. Contudo, Anastácio da Cunha praticou ainda os moldes arcádicos, tentando mesmo aportuguesar a métrica quantitativa do latim.

O carácter inovador da sua obra, relativamente aos moldes tradicionais em que ainda se chegou a inscrever, foi a presença de uma lírica amorosa que dissipava todas as convenções do amor cortês: assumiu a relação carnal entre o homem e a mulher, o desejo, opondo-se às ímpias leis que a sociedade lhe impunha; aboliu o princípio da individualização até aí patente na conceção do amor; desenvolveu o gosto de imaginar todo o mal possível, como forma negativa e final de uma ilusão que se esgota pela separação, pela doença e pela morte.

O seu estilo denotava uma sensibilidade fogosa de vibração passional liberta de convencionalidade ética, só igualado por Bocage. Dando o exemplo da plena sinceridade, abriu o caminho a Bocage e a Garrett, sendo, no entanto, inconfundível o seu estilo ofegante, incerto, exclamativo e com uma veemência algo teatral.

Tantos anos de amor na prisão dura
padecendo martírios cento a cento
já sair não espero da amargura
nem para me queixar já tenho alento.
Informam-te da minha desventura
os ecos dos meus ais. Ah! Se algum vento,
benigno a teus ouvidos, porventura,
levar alguns, tem dó do meu tormento.
Se deres algum pranto à crueldade
do meu mal, poderei menos senti-lo:
teu pranto abrandará sua impiedade.
Louco, que peço? Basta que, ao ouvi-lo.
te enterneças. Ao menos, por piedade,
basta que digas: - Mísero Mertilo?

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Como referenciar
José Anastácio da Cunha na Infopédia [em linha]. Porto Editora. Disponível em https://www.infopedia.pt/artigos/$jose-anastacio-da-cunha [visualizado em 2025-07-11 08:53:41].

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