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Lygia Pape
Gravadora, escultora e artista multimédia brasileira, Lygia Pape nasceu em 1929, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, e faleceu a 3 de maio de 2004, também no Rio de Janeiro. Estudou com Fayga Ostrower e Ivan Serpa. Dedicou-se especialmente à xilogravura, sendo adepta do abstracionismo geométrico. Aproximou-se do concretismo e, de 1957 a 1961, depois de integrar o Grupo Frente (1954-1956), é uma das signatárias do Manifesto Neoconcreto. Em 1958 realizou o Ballet Neoconcreto no Teatro Copacabana (uma performance em que o espaço teatral foi esvaziado da figura humana e os bailarinos substituídos por sólidos geométricos de cor. Estes, por sua vez, eram invisivelmente movidos por dançarinos ocultos no seu interior, criando uma coreografia lenta e retilínea de avançar-recuar, entrecruzar, separar e fundir. Noutras palavras, as convenções da "arte viva" foram usadas para dramatizar a dicotomia entre a geometria e o orgânico). Em 1960, participou na Exposição Internacional de Arte Concreta, em Zurique, Suíça. No fim dos anos 1950 e início dos anos 60, começou a trilogia de livros de artista composta por Livro da Criação, Livro da Arquitetura e Livro do Tempo. A partir da década de 60, trabalhou com argumentos, montagem e realização cinematográfica, tendo feito a programação visual de alguns filmes do cinema novo. Produziu em 1967 o vídeo La Nouvelle Création, premiado num festival sobre o tema "A Terra dos Homens", realizado em Montreal, Canadá. Ainda na década de 1960, produziu esculturas em madeira e realizou Livro-Poema, composto de xilogravuras e poemas concretos. Em 1967 participou na exposição Nova Objetividade Brasileira com a Caixa de Baratas (caixa com baratas mortas, no estilo das caixas de insetos montadas por entomólogos) e a Caixa de formigas (caixa com formigas vivas, um pedaço de carne e a inscrição "A gula ou a luxúria"). Em 1968, no evento Apocalipopótese, mostrou seu objeto penetrável Ovo. Em 1969 exibiu numa favela o Divisor, pano de 30 x 30 metros com perfurações. Em 1971, realizou a curta metragem O Guarda-Chuva Vermelho, sobre Oswaldo Goeldi. Em 1980 foi para Nova Iorque com uma bolsa de estudo da Fundação Guggenheim. Com a morte de Hélio Oiticica, organizou, com Luciano Figueiredo e Waly Salomão, o Projeto Hélio Oiticica, destinado a preservar e divulgar a obra do artista. Em 1990 recebeu o prémio da Associação Brasileira de Críticos de Arte com a mostra Amazoninos e realizou com uma bolsa da Fundação Vitae o projeto Tteias, no qual combina luz e movimento. Mestre em estética filosófica pela UFRJ, foi professora da Faculdade de Arquitetura Santa Úrsula de 1972 até 1985 e lecionou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desde 1982 até ao fim da sua carreira.
O desenvolvimento de Lygia Pape dentro e além do movimento neoconcreto do fim dos anos 50 e início dos anos 60 proporciona um exemplo rico da reorientação do modernismo europeu sob condições brasileiras. O seu carácter lúdico e a sua liberdade particulares podiam ser vistos pelo modo com que ela sempre esteve disposta a experimentar uma ampla gama de linguagens e formatos: desde o ballet ao livro. As ideias não são conceitos ou preconceitos, mas antes fragmentações de sensações que conduzem Pape de um espaço a outro evento e deste a um estado em que bruxuleiam cores e espaços que se devoram, entre o interior e o exterior. Cubos e ovos delimitam as suas áreas e criam estados de perspetiva que se cortam para casar este e outro plano, vazios e plenos.
Considerando a gravura como forma de conhecimento, Lygia Pape utilizava-a para resolver questões de natureza gráfica ligadas ao pensamento do espaço. Nos anos em que participou no Grupo Frente e no neoclassicismo, Lygia efetivamente problematizou o espaço, questionado por artes nas quais se inclui a gravura. Lygia construiu formas que interagem com o espaço circundante. Em Tecelares, as formas geométricas que se repetem alternadamente efetuam ritmo, que, contínuo, lança o olhar do espectador da gravura para o espaço. A qualidade do papel, a porosidade da madeira, a espessura dos cortes articulam-se na obra de Lygia. O controlo do material e das técnicas significa o controlo da forma: por isso, Lygia Pape optou pela xilogravura. A questão do espaço levou Lygia a elaborar livros: no Livro da Criação, livro-objeto, livro que se arma, Lygia invade o espaço; no Livro-Poema, feito de xilogravuras e poemas concretos, o espaço interrogado é o do próprio livro: em folha dupla, o poema, impresso em uma delas e xilogravado na outra, é feito de imagens pensadas como contíguas, de modo a formar uma única imagem.
O desenvolvimento de Lygia Pape dentro e além do movimento neoconcreto do fim dos anos 50 e início dos anos 60 proporciona um exemplo rico da reorientação do modernismo europeu sob condições brasileiras. O seu carácter lúdico e a sua liberdade particulares podiam ser vistos pelo modo com que ela sempre esteve disposta a experimentar uma ampla gama de linguagens e formatos: desde o ballet ao livro. As ideias não são conceitos ou preconceitos, mas antes fragmentações de sensações que conduzem Pape de um espaço a outro evento e deste a um estado em que bruxuleiam cores e espaços que se devoram, entre o interior e o exterior. Cubos e ovos delimitam as suas áreas e criam estados de perspetiva que se cortam para casar este e outro plano, vazios e plenos.
Considerando a gravura como forma de conhecimento, Lygia Pape utilizava-a para resolver questões de natureza gráfica ligadas ao pensamento do espaço. Nos anos em que participou no Grupo Frente e no neoclassicismo, Lygia efetivamente problematizou o espaço, questionado por artes nas quais se inclui a gravura. Lygia construiu formas que interagem com o espaço circundante. Em Tecelares, as formas geométricas que se repetem alternadamente efetuam ritmo, que, contínuo, lança o olhar do espectador da gravura para o espaço. A qualidade do papel, a porosidade da madeira, a espessura dos cortes articulam-se na obra de Lygia. O controlo do material e das técnicas significa o controlo da forma: por isso, Lygia Pape optou pela xilogravura. A questão do espaço levou Lygia a elaborar livros: no Livro da Criação, livro-objeto, livro que se arma, Lygia invade o espaço; no Livro-Poema, feito de xilogravuras e poemas concretos, o espaço interrogado é o do próprio livro: em folha dupla, o poema, impresso em uma delas e xilogravado na outra, é feito de imagens pensadas como contíguas, de modo a formar uma única imagem.
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Como referenciar
Porto Editora – Lygia Pape na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-02 07:48:35]. Disponível em
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