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Românico
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Introdução
O Românico é o primeiro estilo artístico internacional da Cristandade Ocidental, um estilo original com diversas escolas regionais, congregando elementos romanos, germânicos, bizantinos, islâmicos e arménios.
No início da Idade Média, a Europa Ocidental fortaleceu-se e definiu uma civilização muito própria, numa época de grandes transformações motivadas por três fatores: a estabilização dos povos Bárbaros, a sua admissão e miscigenação nas comunidades cristãs, possíveis devido à diminuição das incursões guerreiras e a fixação dos Húngaros na região Leste da Alemanha; o recuo dos Árabes, com a fragmentação do califado de Córdova depois da morte de Almançor; e o crescimento de uma civilização urbana e mercantil, a par da permanência de uma civilização feudal e monástica.
Sé de Coimbra
Vista exterior da Igreja de S. Martinho de Cedofeita, no Porto
Igreja românica de Bravães, concelho de Ponte da Barca
Castelo de Guimarães
Portal ornamentado da igreja de Carrazeda de Ansiães
Capela de S. Pedro, em Seia, distrito da Guarda
Domus Municipalis, Bragança
Sé de Lisboa
Catedral de Pisa
"Nossa Senhora e o Menino" - pormenor central do altar-mor da Igreja do Mosteiro de Santa Margarida, século XII
Capela de estilo românico, Lousada
A renovação material, proporcionada pelo renascimento do comércio e do artesanato, do uso da moeda, e pelo desenvolvimento da agricultura para responder às necessidades de uma população em crescimento, refletiu-se numa renovação material, cultural e religiosa. Esta época é mais favorável à produção artística. Dado o papel preponderante da Igreja, é privilegiada a construção de edifícios religiosos. Nesta sociedade, predominantemente cristã, assumem-se como grandes encomendadores os institutos religiosos, particularmente no âmbito do monaquismo. Os mosteiros rurais beneditinos de Cluny e dos monges brancos de Cister assumem um papel importante num período em que o domínio do homem sobre a natureza era ainda pouco expressivo. Para além de se afirmarem como os intermediários entre Deus e o Homem, tornaram-se importantes unidades em termos económicos, intelectuais e religiosos.
Este é o tempo das grande peregrinações e das Cruzadas, da reorganização dos bispados e da expansão das ordens monacais no Ocidente.
Arquitetura
O primeiro momento da evolução da arquitetura românica regista-se na Itália (de onde irradia para toda a Cristandade), onde mestres canteiros, organizados em corpos itinerantes, erigem igrejas caracterizadas por uma grande simplicidade, com paredes em aparelho pequeno que dão a ilusão de serem feitas de tijolo, cobertas de tetos de madeira (que posteriormente darão lugar a abóbadas de berço) e cujas naves se apresentam divididas por colunas ou pilares, despidas de ornamentação plástica e com campanários no flanco do edifício.
Em França irá surgir uma outra manifestação da mesma corrente arquitetónica, na qual são mais notórias as influências germânicas (da Alemanha dos Otões, especialmente).
A abadia-mãe de Cluny é o exemplo paradigmático de um tipo de arquitetura monástica, muito expressiva, que traz uma nova estrutura e uma nova estética. Cluny, o paradigma da arquitetura monástica do século XII, foi iniciada em 1088 pelo abade D. Hugo e dedicada a S. Pedro, "O Pescador de Almas". Note-se que a abadia existia já desde o século X, mas sucederam ampliações e reconstruções. Em 1088, parte-se para a tipologia românica própria de Cluny.
No nosso país, a arquitetura românica de Cluny chegou a pequenas igrejas de mosteiros do Norte de Portugal, normalmente de uma só nave e de acentuado carácter defensivo. É que, para além da função religiosa, a Igreja era, por vezes, usada como fortaleza numa região sujeita às razias do adversário árabe, localizado no Sul da Península. Os contrafortes e as janelas em forma de seteiras atestam essa função defensiva.
A arquitetura cisterciense, por seu turno, foi muito marcada pela espiritualidade do rigor e da simplicidade professadas pelo seu maior mentor, S. Bernardo, quarto abade geral. Os seus edifícios estão filiados na casa-mãe, a qual enviava, por norma, um abade e doze monges para cada nova fundação. A primeira fundação documentada em território português é a abadia de S. João de Tarouca em 1140-1144, filiada em Claraval, seguida pela abadia de Santa Maria de Salzedas, também na região de Tarouca.
Os edifícios deste estilo românico denotam uma adaptação à liturgia romana, mais simples, mas ao mesmo tempo mais encenada, e são vestidos de esculturas concentradas nas portas, símbolo das portas do céu, e nas janelas, por onde entra a luz divina, e muitas vezes embelezadas por pinturas a fresco nos seus panos.
Em Portugal, este estilo coincidiu com a reorganização do território, dividido em paróquias, e com o nascimento e afirmação da nossa identidade nacional.
O estilo românico apresenta algumas características básicas comuns a todos os núcleos de produção deste tipo de arte. No entanto, este fio condutor não impede que se formem escolas nacionais e até regionais, que lhe conferem uma das suas especificidades.
Em França, as igrejas, normalmente de dupla torre, apresentam abóbadas de berço e capelas radiantes. Podemos distinguir as seguintes escolas: da Provença; do Languedoc; da Aquitânia; da Borgonha (que teve grande influência em Portugal) e da Normandia. Na Itália, o românico é diverso e original, e nele coexistem as escolas da Lombardia, de influência germânica, a de Pisa, simbolizada pela sua catedral, e a da Toscânia, cheia de cor devido aos jogos de mármores. Na Alemanha, as igrejas são monumentais e de planta romana como a catedral de Spire. O românico da Grã-Bretanha está, nitidamente, relacionado com o da Normandia, depois da conquista de Guilherme em 1066; o da Escandinávia está sintetizado, por exemplo, na catedral sueca de Lund com alguma influência germânica.
A planta-padrão de uma igreja românica é uma planta do tipo basilical, composta, no entanto, por três ou cinco naves para servir a nova liturgia. Apresenta um coro entre o transepto e a abside e uma charola ou deambulatório, isto é, uma galeria de formato semicircular em volta da capela-mor. Este elemento arquitetónico foi adicionado para integrar as igrejas de peregrinação, nas quais os crentes podiam visitar as capelas absidiais sem interromper o serviço religioso. Em alternativa podiam-se construir, em volta da ousia ou do transepto, pequenas absides ou absidíolos.
A igreja típica seria abobadada, dotada de tribunas ou trifórios, ritmada por vãos e janelas estreitos para criar uma atmosfera mística, e as suas paredes seriam suportadas por contrafortes.
Em Portugal, a arquitetura românica é rica em formas ou influência local, apesar de se notar uma forte influência francesa e um baixo nível técnico, predominando os edifícios de apenas uma nave, de aspeto maciço e compacto. No país podem distinguir-se as escolas do Alto Minho, da área de Braga, da região do Porto e de Coimbra. Nos exemplos mais significativos da arte românica encontram-se a Sé de Braga, de todas a mais antiga (finais do século XI), a Sé do Porto e a de Coimbra.
No Norte do país, o estilo românico teve uma longa permanência, prolongando-se até aos séculos XIII e, por vezes, XIV, numa altura em que na Europa já se construía ao estilo gótico. Aqui, o material utilizado foi basicamente o granito. Esta longa permanência tem a ver com a própria história desta região. No Centro e no Sul do país este fenómeno foi mais efémero. Aí, a conjuntura política e económica era distinta, e a confluência de influências, nomeadamente a muçulmana e a moçárabe, ditava uma arte bastante diferente da nortenha. Usava-se predominantemente a rocha calcária.
Artes Plásticas e Decorativas
Arte fundamentalmente religiosa, indissociável da religião cristã, o Românico alarga-se igualmente à pintura e à escultura, que em comum têm a subordinação a um propósito edificante e se colocam ao serviço de uma visão ortodoxa do transcendente. Arte sem a pretensão de figurar a realidade de forma objetiva, antes se pretendendo simbólica, procura levar o crente a meditar sobre o seu lugar e o seu destino.
A pintura românica é antes de mais pedagógica, encontrando-se ao serviço da religião, transmitindo os ensinamentos e os princípios fundamentais da doutrina cristã, visíveis na decoração arquitetónica articulada com a componente escultórica. Tenta transmitir uma mensagem mais amena do que a transmitida nas esculturas dos portais que representam a salvação ou a condenação das almas. Os fiéis são advertidos, pelas esculturas, das punições a que estarão sujeitos se não se redimirem dos seus pecados.
Muito provavelmente, as paredes das igrejas estariam revestidas de cores vivas (ao contrário do que muitos restauros enganadores poderiam levar a pensar), a fim de suavizar a pesada atmosfera destes templos. Infelizmente, no nosso país, são muito escassos os exemplares que apresentam pintura.
Os temas mais comuns nas pinturas a fresco, concentrados nas absides e nas paredes superiores da nave central, pretendem representar os princípios da religião Cristã: a Trindade, a Virgem Maria, a vida dos santos e temas apocalípticos, como o Juízo Final, normalmente colocados junto das saídas. Há também alguns elementos iconográficos simbólicos, que acompanham estes temas. É usual encontrarmos a representação da Jerusalém celeste, dos trabalhos, bem como a simbólica dos temas da tradição clássica como a sereia, o pavão real ou a árvore da vida.
Trata-se de uma pintura mental ou intelectualizada, com figuras lineares e sem perspetiva, que comungam com elementos da estética paleocristã, da bizantina e da pré-românica.
A iluminura, a arte de decorar textos sagrados utilizando a pena ou o pincel sobre um suporte de papel ou de papiro recorrendo a miniaturas e à utilização de prata, ouro e cores, surgiu no Egito no tempo dos faraós. Foi depois transmitida aos Gregos e Romanos, que por sua vez legaram esta técnica aos Bizantinos, estendendo-se a toda a Cristandade no século IV. Na Idade Média, a técnica da iluminura foi muito utilizada na decoração dos livros de teologia e dos livros de culto produzidos nas comunidades monásticas.
A escultura românica é arquitetónica porque, tal como a pintura, está subordinada à arquitetura, resumindo-se a apontamentos decorativos concentrados nos tímpanos, nas arcadas e nos capitéis dos portais e noutros vazamentos. Ela transmite as novas conceções do corpo e da estética da representação. A sua iconografia é pedagógica, pretendendo transmitir a mensagem cristã a uma população maioritariamente analfabeta. Os motivos glosados são essencialmente vegetalistas, geométricos, antropomórficos e zoomórficos. Nas representações esculpidas abundam cenas e passagens das Escrituras Sagradas como o Juízo Final, o Deus Castigador, o Tetramorfo e Cristo em Majestade.
Tanto a escultura como a pintura do período românico nascem de esquemas mentais, mas a escultura parte daí para transfigurar o real, provocando simultaneamente sentimentos de admiração e de familiaridade.
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Como referenciar
Porto Editora – Românico na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-02-15 12:39:42]. Disponível em
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