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Surrealismo
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Introdução
Uma das principais correntes estéticas do século XX, o movimento surrealista foi liderado por escritores como André Breton, Paul Éluard e Pierre Reverdy. Em 1924, após o estudo da pintura de Giorgio De Chirico, André Breton publica aquele que se tornaria o ato fundador e o programa estético do movimento, o "Manifesto do Surrealismo", através do qual defendeu um processo criativo assente no automatismo psíquico. A partir daí o poeta assumiu-se como o principal ideólogo do movimento, publicando um segundo manifesto em 1929.
Artes Plásticas e Decorativas
"Golconda", óleo sobre tela de René Magritte, 1953
"O Sono", de Salvador Dalí, 1937
"Heitor e Andrómaca", de Chirico
"Roda de bicicleta", de Marcel Duchamp, 1913
"A Voz dos Ventos", óleo sobre tela de René Magritte, 1931
Pormenor do vitral "Reuben", de Marc Chagall, 1960/1962 (sinagoga do Hospital da Universidade de Hadassah, Jerusalém)
"Megalomania", óleo sobre tela de René Magritte, 1948
"A Persistência da Memória", quadro pintado em 1931, por Salvador Dalí, representante do surrealismo
"Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romã, um segundo antes do despertar", de Salvador Dalí, 1944
Entre os artistas que integraram o grupo fundador do movimento destacaram-se Marcel Duchamp, Francis Picabia, Max Ernst, Hans Arp e Man Ray. Em 1929 juntaram-se Pierre Roy, Georges Malkine, os espanhóis Salvador Dali e Joan Miró e o suíço Giacometti. Em simultâneo, formaram-se grupos de artistas surrealistas em vários países, como a Bélgica (com os pintores René Magritte e Paul Delvaux), Portugal, Estados Unidos, Japão, etc. Em Portugal a assimilação desta corrente foi mais tardia, manifestando-se na primeira metade da década de 40, em plena Segunda Guerra Mundial. Teve como principais representantes os pintores António Pedro, António Dacosta e Cândido da Costa Pinto.
Apesar do carácter vanguardista e revolucionário e da aparente rutura com a história, os surrealistas apoiaram-se em trabalhos de artistas como Bosch, Piranesi, Goya, Chagall ou Klee e em movimentos como o Maneirismo, o Romantismo, o Simbolismo, a Pintura Metafísica e o Dadaísmo. Deste último retomaram algumas experiências (como a criação através de processos automáticos ou aleatórios) que levaram a um nível mais radical. Procurando apresentar o lado dissonante da personalidade humana, desenvolveram novas formas expressivas, das quais se salientam os desenhos automáticos de Masson e as colagens e frottages de Max Ernst.
O Surrealismo procurou ultrapassar a perceção convencional e tradicional da realidade, desenvolvendo pesquisas estéticas fundamentadas nas descobertas freudianas do valor do inconsciente enquanto complemento da vida consciente e da capacidade comunicativa do sonho. Desta forma conseguem ultrapassar o nihilismo redutor do Dadaísmo, procurando então associar elementos díspares, através da dissociação dos objetos dos seus contextos convencionais de forma a obter significações inesperadas.
Recusando uma rígida unidade estilística, o surrealismo concretizou-se num espetro muito alargado de linguagens que iam desde o realismo mais minucioso de Dali, de Magritte e de Paul Delvaux, às tendências mais abstratas de Miró ou de Hans Arp, englobando expressões como a pintura, a escultura, a fotografia ou o cinema.
Desaparecendo enquanto movimento organizado com o eclodir da Segunda Guerra Mundial, o Surrealismo teve repercussões consideráveis para o desenvolvimento de muitas das correntes artísticas da segunda metade do século XX, como a Arte Pop, a Performance Art, ou os grupos Cobra e Fluxus.
Literatura
Apollinaire aparece com o designativo Surrealismo (ou Sobrerrealismo) em 1917 no prefácio do seu drama Les Mamelles de Tirésias, André Breton aplica-o, quando quer referir «um certo automatismo psíquico que corresponde bastante bem ao estado de sonho». Breton remonta a origem filosófica e literária do movimento aos séculos XVIII e XIX e fala em Hugo, Hegel, Nerval, Baudelaire; mas Rimbaud, Apollinaire, Tzara e Freud (com o inconsciente e o automatismo psíquico), entre outras figuras do século XIX, marcam nele assinalada influência. Apollinaire, simpatizante do Dadaísmo, dele se separa porque o nihilismo do movimento de Tzara (Dadaísmo) opunha-se ao plano que tinha em vista o Surrealismo quanto à filosofia, à moral, e à estética. Este movimento dá os seus primeiros passos em 1919 com Les Champs Magnétiques de Breton e Soupault; mas só em 1924 o Manifeste du Surréalisme de Breton - a Arte Poética do movimento - prepara a revista La Révolution Surréaliste. Dissensões entre alguns membros não impedem que, até eclodir a Segunda Guerra Mundial, o movimento atinja o seu ponto mais alto. Informa-nos destas dissensões o Second Manifeste du Surréalisme (1929). Difunde-se pela Europa, menos profundamente na Inglaterra e mais atrasado em Portugal; Breton promove a atividade surrealista na sua deslocação à América, chegando ao México, ao Brasil; com o seu regresso a Paris, o Surrealismo entra na fase final.
Além de movimento artístico-literário e estético, o Surrealismo aparece como uma tomada de consciência face à civilização e cultura do Ocidente europeu. Aproveita, amplia, transforma valores do Romantismo e volta-se para a filosofia que rejeita o racionalismo cartesiano ou o equilíbrio do Classicismo. Rejeita o convencionalismo e opõe-lhe a liberdade; Substitui o positivismo pela sobrerrealidade, pelo sonho, pelo inverosímil, pelo insólito porque sente que o homem ultrapassa as limitações da matéria na busca do abstrato, do mistério. Daí a importância da metáfora. Alguns momentos do Surrealismo aproximam-no da linha política marxista e comunista, o que provoca a separação de Breton e de mais surrealistas. A rejeição das regras de Aristóteles e do racionalismo de Descartes leva o poeta surrealista a sobrestimar o que é surpreendente, fantástico, acidental, fortuito e a exprimir-se com acentuada liberdade de palavras e com especial relevância para o símbolo, a metáfora, analogia (elementos que estão ao serviço do maravilhoso, do insólito, do mistério). Por tudo isto se afirma o valor da liberdade para os surrealistas na sua tentativa de objetivar, visualizar o subjetivo até com uma estreita ligação à pintura, aparecendo mesmo trechos ilustrados com desenhos, pois o movimento sente-se em pintores como Salvador Dalí, Joan Miró (Barcelona 1893), este considerado um sobrerrealista inigualável pela frescura, fantasia e humor dos quadros. Em Lisboa formam-se tardiamente dois grupos surrealistas. Em 1947, o primeiro, com António Pedro, José Augusto França, Mário Cesariny de Vasconcelos, Alexandre O'Neill. Este torna-se dissidente e, no ano seguinte, forma novo grupo com António Maria Lisboa. José Augusto França é ficcionista, ensaísta e crítico de arte. É, principalmente, um teórico do Surrealismo. Alexandre O'Neill pende, primeiro, para a sátira em Agora Escrevo; mas, em Tempo de Fantasmas (1951) e No Reino da Dinamarca (1958), já o pensamento toma asas para o sonho, para o fantástico. O segundo grupo é o que legitimamente representa o Surrealismo em Portugal. Antes destas figuras e além delas, outros poetas afirmam a sua inclinação para os processos da escola: Adolfo Casais Monteiro, Jorge de Sena (considerado um dos críticos do movimento).
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Como referenciar
Porto Editora – Surrealismo na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-03-19 06:38:47]. Disponível em
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