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Império Britânico
A expressão Império Colonial Britânico começou a ser utilizada a partir da coroação da rainha Vitória como imperatriz da Índia. Ao contrário de outras potências, coloniais ou não, a Inglaterra possuía um império com territórios em todos os continentes e súbditos de quase todos os povos, sendo considerado por isso o mais extenso da História.
Porém, não se lhe deve a primazia colonial, tendo só começado as suas tentativas no século XVI, com Isabel I e os piratas e corsários seus protegidos, quando os portugueses e espanhóis já possuíam verdadeiros impérios definidos e os franceses já tinham dado também os primeiros passos. Como estes, mas em maior escala, assentará o seu poder colonial no domínio dos mares ao longo de quase quatro séculos, iniciados com a derrota da Armada Invencível em 1588. O verdadeiro impulso será dado no século XVII, devido à competição com franceses, espanhóis e holandeses, e às ambições comerciais da poderosa burguesia inglesa.
Assim, em 1670 já existem colónias inglesas estáveis na América do Norte (Nova Inglaterra, Virgínia, Canadá) e em Antígua, Barbados, Belize e Jamaica, bem como uma penetração comercial na Índia desde 1600, graças à Companhia das Índias Orientais. Funda desde 1660, em África, entrepostos de captação de escravos para as plantações americanas, apossando-se, no século seguinte (1787), de inúmeros territórios entre o Rio Gâmbia (encravado no Senegal francês) e a Nigéria, abarcando a famosa Costa do Ouro (hoje, Gana). O século XVIII é, deste modo, o período de afirmação e maturação do projeto colonial britânico. A criação de um sistema económico fechado neste conjunto de territórios ultramarinos ingleses pela metrópole será o grande passo para a edificação do império, impondo-se regulamentos e normas de navegação e comércio controlado dentro do seu espaço geopolítico, evitando concorrência ou corso. Desse primeiro fôlego de esplendor do colonialismo inglês destacam-se as figuras de Clive, Coote, Rodney e o famoso herói de Trafalgar, Nelson.
Com a expulsão dos franceses da Índia em 1763 (Tratado de Paris, no fim da Guerra dos Sete Anos) e a posse das suas colónias na América (Canadá, Mississípi, algumas Antilhas), os ingleses superiorizam-se à França e à Espanha. O seu único revés neste período, forte aliás, será a independência americana, em 1776. Esta perda será compensada com o início da colonização da Austrália (1783) e mais tarde da Nova Zelândia (1840), para onde envia inicialmente deportados. A sua armada mantém-se superior às demais com a Batalha de Trafalgar em 1805, impondo uma vez mais uma pesada derrota a um adversário. O domínio de novas colónias é constante nesta altura - Malaca, desde 1795, Ceilão, Trindade, em 1802, e Tobago, Malta, Santa Lúcia e Maurícia, em 1815, depois da derrota napoleónica e do seu bloqueio continental. Singapura é fundada por Thomas Raffles em 1819. No Canadá regista-se o avanço para oeste, abrindo novas frentes de colonização, o mesmo sucedendo na Índia, com a exploração do interior do Decão e de Assam, Bengala, etc.
O século XIX marca o auge do Império Colonial Britânico, cuja expansão económica e humana é favorecida pelo desenvolvimento do capitalismo financeiro e industrial, bem como pela pressão demográfica elevada. Por outro lado, marca uma nova administração e gestão da realidade colonial. Exemplo disso é o governo direto da Coroa na Índia. Aí, porém, despoletará a primeira grande revolta contra o domínio colonial britânico: a revolta dos Cipaios, em 1858, que ditará o fim da Companhia das Índias Orientais. Em 1877, a rainha Vitória - num gesto de coesão face às autonomias ou aspirações mais radicais - proclama-se imperatriz da Índia, que compreendia um extenso território entre a fronteira irano-paquistanesa e a Birmânia e entre o Índico e o Tibete. Na China, estabelecem-se em Xangai. Na África, alimenta-se cada vez mais o sonho de construir um império inglês entre o Cairo, no Egito, e o Cabo, na África do Sul, o que é conseguido depois da Conferência de Berlim (1884-5), que legitima a anexação de todos os territórios ao longo desse corredor africano (Egito, Sudão, Quénia, Rodésia, Transvaal, etc.). Neste último, entre 1899 e 1902, travará a primeira guerra do império, contra os boers (descendentes de colonos holandeses estabelecidos desde o século XVII na África do Sul), que se tornarão independentes em 1910 (União Sul-Africana).
Este conflito demonstra o desaparecimento gradual dos últimos obstáculos para a plena soberania das colónias desde o começo da segunda metade do século XIX. Nesse período, é dada autonomia às colónias de maioria de população europeia, como o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia e as regiões da África do Sul (Cabo, Orange, Natal e Transvaal), que ganham um estatuto de domínios (soberania quase total, mas leais à Coroa britânica), respetivamente, em 1867, 1901, 1907 e 1910. Aliás, já só dependiam da metrópole, até essa data, para assuntos externos e de defesa. Estes domínios participarão ao lado da Inglaterra na Primeira Guerra Mundial, o que origina uma nova organização do império, cada vez mais diminuto devido à independência daqueles domínios de população maioritariamente europeia, embora associados à Inglaterra através da Commonwealth (Estatuto de Westminster, 1931). Irlanda, Canadá e África do Sul aceitam o Estatuto nessa data, fazendo-o mais tarde a Austrália (1942) e a Nova Zelândia (1947): perdem assim o vínculo ao Reino Unido, apesar de reconhecerem a soberania simbólica da Coroa britânica.
No resto do império - que o Egito é a primeira colónia não-branca a abandonar -, de população basicamente autóctone, novas fórmulas de associação política e económica são adotadas: na Índia, por exemplo, tenta-se aproximar a população da administração, embora com custos elevados. De facto, após a Segunda Guerra Mundial e com o despertar dos nacionalismos, Índia e Paquistão tornam-se independentes e a Irlanda passa a república. As décadas seguintes serão o cenário histórico da desagregação do império, nomeadamente em África. Atualmente, depois da devolução de Hong Kong, em 1997, à China, o Império Colonial Britânico resume-se a Gibraltar, à Ilha de Man e às ilhas do Canal da Mancha, na Europa, Territórios do Índico, Pitcairn e dependências no Pacífico, Ilhas Malvinas, Anguilla, Bermudas, as Ilhas Caimão, Turks & Caicos, Montserrat e Virgens Britânicas, na América, e Santa Helena e dependências (Tristão da Cunha, Ascensão) na África.
Porém, não se lhe deve a primazia colonial, tendo só começado as suas tentativas no século XVI, com Isabel I e os piratas e corsários seus protegidos, quando os portugueses e espanhóis já possuíam verdadeiros impérios definidos e os franceses já tinham dado também os primeiros passos. Como estes, mas em maior escala, assentará o seu poder colonial no domínio dos mares ao longo de quase quatro séculos, iniciados com a derrota da Armada Invencível em 1588. O verdadeiro impulso será dado no século XVII, devido à competição com franceses, espanhóis e holandeses, e às ambições comerciais da poderosa burguesia inglesa.
Assim, em 1670 já existem colónias inglesas estáveis na América do Norte (Nova Inglaterra, Virgínia, Canadá) e em Antígua, Barbados, Belize e Jamaica, bem como uma penetração comercial na Índia desde 1600, graças à Companhia das Índias Orientais. Funda desde 1660, em África, entrepostos de captação de escravos para as plantações americanas, apossando-se, no século seguinte (1787), de inúmeros territórios entre o Rio Gâmbia (encravado no Senegal francês) e a Nigéria, abarcando a famosa Costa do Ouro (hoje, Gana). O século XVIII é, deste modo, o período de afirmação e maturação do projeto colonial britânico. A criação de um sistema económico fechado neste conjunto de territórios ultramarinos ingleses pela metrópole será o grande passo para a edificação do império, impondo-se regulamentos e normas de navegação e comércio controlado dentro do seu espaço geopolítico, evitando concorrência ou corso. Desse primeiro fôlego de esplendor do colonialismo inglês destacam-se as figuras de Clive, Coote, Rodney e o famoso herói de Trafalgar, Nelson.
O século XIX marca o auge do Império Colonial Britânico, cuja expansão económica e humana é favorecida pelo desenvolvimento do capitalismo financeiro e industrial, bem como pela pressão demográfica elevada. Por outro lado, marca uma nova administração e gestão da realidade colonial. Exemplo disso é o governo direto da Coroa na Índia. Aí, porém, despoletará a primeira grande revolta contra o domínio colonial britânico: a revolta dos Cipaios, em 1858, que ditará o fim da Companhia das Índias Orientais. Em 1877, a rainha Vitória - num gesto de coesão face às autonomias ou aspirações mais radicais - proclama-se imperatriz da Índia, que compreendia um extenso território entre a fronteira irano-paquistanesa e a Birmânia e entre o Índico e o Tibete. Na China, estabelecem-se em Xangai. Na África, alimenta-se cada vez mais o sonho de construir um império inglês entre o Cairo, no Egito, e o Cabo, na África do Sul, o que é conseguido depois da Conferência de Berlim (1884-5), que legitima a anexação de todos os territórios ao longo desse corredor africano (Egito, Sudão, Quénia, Rodésia, Transvaal, etc.). Neste último, entre 1899 e 1902, travará a primeira guerra do império, contra os boers (descendentes de colonos holandeses estabelecidos desde o século XVII na África do Sul), que se tornarão independentes em 1910 (União Sul-Africana).
Este conflito demonstra o desaparecimento gradual dos últimos obstáculos para a plena soberania das colónias desde o começo da segunda metade do século XIX. Nesse período, é dada autonomia às colónias de maioria de população europeia, como o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia e as regiões da África do Sul (Cabo, Orange, Natal e Transvaal), que ganham um estatuto de domínios (soberania quase total, mas leais à Coroa britânica), respetivamente, em 1867, 1901, 1907 e 1910. Aliás, já só dependiam da metrópole, até essa data, para assuntos externos e de defesa. Estes domínios participarão ao lado da Inglaterra na Primeira Guerra Mundial, o que origina uma nova organização do império, cada vez mais diminuto devido à independência daqueles domínios de população maioritariamente europeia, embora associados à Inglaterra através da Commonwealth (Estatuto de Westminster, 1931). Irlanda, Canadá e África do Sul aceitam o Estatuto nessa data, fazendo-o mais tarde a Austrália (1942) e a Nova Zelândia (1947): perdem assim o vínculo ao Reino Unido, apesar de reconhecerem a soberania simbólica da Coroa britânica.
No resto do império - que o Egito é a primeira colónia não-branca a abandonar -, de população basicamente autóctone, novas fórmulas de associação política e económica são adotadas: na Índia, por exemplo, tenta-se aproximar a população da administração, embora com custos elevados. De facto, após a Segunda Guerra Mundial e com o despertar dos nacionalismos, Índia e Paquistão tornam-se independentes e a Irlanda passa a república. As décadas seguintes serão o cenário histórico da desagregação do império, nomeadamente em África. Atualmente, depois da devolução de Hong Kong, em 1997, à China, o Império Colonial Britânico resume-se a Gibraltar, à Ilha de Man e às ilhas do Canal da Mancha, na Europa, Territórios do Índico, Pitcairn e dependências no Pacífico, Ilhas Malvinas, Anguilla, Bermudas, as Ilhas Caimão, Turks & Caicos, Montserrat e Virgens Britânicas, na América, e Santa Helena e dependências (Tristão da Cunha, Ascensão) na África.
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Como referenciar
Porto Editora – Império Britânico na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-11-09 14:11:35]. Disponível em
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