Nilo: Berço de uma Civilização (3000-1560 a. C.)
As primeiras referências à civilização egípcia datam de cerca de 3200 a. C.
Desde as suas origens até à invasão dos hicsos, o Egito sempre assumiu a correta estratégia de cedo criar unidade - pela vitória dos reis do Sul (Hieracômpole) sobre os do Norte (Buto) - e de ficar protegido das movimentações dos povos coevos. Deste modo, desenvolveu-se uma civilização original, cujos traços fundamentais permanecerão no tempo, desde o Antigo e depois do Médio Império, até cerca do século XVII a. C.
Após um período curto de tipo proto-histórico, com predomínio de elementos asiáticos vindos do istmo de Pelúsio com as civilizações de El-Obeid e Djendet-Nache, uma revolução nacional realizou, em sentido inverso (de sul para norte), a unificação egípcia, antes de 3200 a. C. É visível o domínio do "Rei-Escorpião", seguido de Narmer e as suas duas coroas - uma branca para o Alto Egito e uma vermelha para o Baixo Egito. Depois deste, as duas dinastias iniciais fixaram capital em Tínis, tendo Abidos por necrópole. A monarquia de direito divino localiza-se, neste período, entre 3200 e 2800 a. C, tendo os reis Djet e Udimu lançado expedições de tipo militar contra os beduínos do Sinai, e comerciais no mar Vermelho. Os últimos soberanos, contudo, localizaram as suas tumbas na zona de Sakarah (Mênfis), numa tendência óbvia de transição da capital de sul para norte.
As dinastias III, IV e V, vigentes entre 2700 e 2400 a. C, marcam o período de apogeu do Império Antigo. São reinados organizadores e profundamente criadores que fundam, de forma definitiva, a monarquia centralizada, de tipo absoluto e burocratizada. Os reis de maior projeção na III dinastia são Djeser e seu ministro Imnotep e, na IV dinastia, os edificadores de pirâmides Quéops, Quéfren e Miquerinos, os primeiros a enviar expedições de pilhagem às regiões a sul de Assuão e à Núbia, a oriente ao Sinai e para ocidente à Líbia. A V dinastia, de cariz mais teocrático, é fundada pelos sacerdotes de Heliópolis, adeptos fanáticos do deus do Sol, Rá (opositor do deus Ftá de Mênfis). Neste período, as manifestações artísticas atingem um vigor acentuado e um classicismo próprio, nunca ultrapassado futuramente, mas com frequência copiado.
A decadência surge no período entre a IV e a X dinastias, cerca de 2400 a 2280 a. C. O reinado de Pepi I ainda é glorioso fruto, sobretudo, das campanhas e expedições lideradas pelo seu ministro Uni na região núbia. Pepi II, seu filho, protagonizou um erro significativo ao reinar 94 anos; este período caracterizou-se por um enfraquecimento progressivo do estado, agravado pelas incursões beduínas, pela crescente importância e independência dos monarcas, líderes das circunscrições territoriais, e por uma pouco clarificada revolta e tensão social entre pobres e ricos. Em 2280 a. C. o Egito é um espaço fragmentado: o Delta, invadido pelos asiáticos, Mênfis, local de sobrevivência da velha dinastia, Heracleópolis, com um monarca independente, e a sul Tebas, onde os reis Antef (X dinastia) dominam todo o Alto Egito.
Após um período de confusas lutas, a vitória dos tebanos sobre Heracleópolis cria uma nova unidade. A XI dinastia, de base tebana, simbolizada por Mentuotep, estende o seu domínio a todo o país, sobretudo a partir da vitória sobre os beduínos, cerca de 2065 a. C., inaugurando um novo período, cujo apogeu se situa sob a XII dinastia, a dos Amenemat, e dos Senusret, entre 2000 e 1788 a. C., pouco antes do reinado de Hamurábi.
Este período fica marcado por assinaláveis progressos e inovações. Tebas, a 1000 quilómetros do mar, é agora a capital administrativa e religiosa do país, longe da ameaça de beduínos e asiáticos, embora os túmulos reais se localizem em Iket-Taui, próximo de Dachur, nas cercanias de Fayum, no deserto a oeste. O lago Méris encontrava-se dominado pela ação das drenagens, irrigações e colonização, sendo uma das obras máximas do regime. A luta contra as usurpações dos monarcas conhece um limite final com a intervenção de Senusret III, com a supressão temporária do cargo, que é destituído do seu cariz feudal e hereditário de forma definitiva. A administração é então centralizada e profundamente reorganizada. A população passa a ser alimentada e sustentada, em parte, pelo Fayum e pela política dos grandes trabalhos, tendo acesso oficial, inclusive, à igualdade religiosa, o que é visível na proliferação de sepulturas de tipo individual, bem como à instrução, com a direta criação da classe dos escribas. Do ponto de vista da estratégia económica e política, o Egito estende influências até à Síria e, provavelmente, até Creta, por intermédio da Fenícia, que está sob governação de um egípcio. De igual modo são criadas diversas fortificações no Delta, a oriente, contra os beduínos, e no vale, a sul, contra a Núbia, cuja região é conquistada parcialmente até à segunda catarata.
Esta política de cariz unificador, grandiosa, é expressa de igual modo na ascensão dos deuses de Tebas. Os deuses locais, Min de Coptos e Mentu de Hermonte, foram suplantados por Amon de Hermópolis, adotado pela XII dinastia e assimilado ao Rá de Heliópolis. O deus Amon-Rá é então o deus supremo do panteão egípcio, concedendo o seu patrocínio aos empreendimentos realizados pelos soberanos, numa ação que trará vantagens óbvias aos seus sacerdotes, hábeis administradores e políticos.
A partir do final século XVIII a. C, sobretudo com a chegada das grandes invasões protagonizadas pelos hicsos, assiste-se a um período de profundas modificações, impelindo a criação de um mundo novo, onde as monarquias não podiam continuar a viver em compartimentos fechados.
Desde as suas origens até à invasão dos hicsos, o Egito sempre assumiu a correta estratégia de cedo criar unidade - pela vitória dos reis do Sul (Hieracômpole) sobre os do Norte (Buto) - e de ficar protegido das movimentações dos povos coevos. Deste modo, desenvolveu-se uma civilização original, cujos traços fundamentais permanecerão no tempo, desde o Antigo e depois do Médio Império, até cerca do século XVII a. C.
Após um período curto de tipo proto-histórico, com predomínio de elementos asiáticos vindos do istmo de Pelúsio com as civilizações de El-Obeid e Djendet-Nache, uma revolução nacional realizou, em sentido inverso (de sul para norte), a unificação egípcia, antes de 3200 a. C. É visível o domínio do "Rei-Escorpião", seguido de Narmer e as suas duas coroas - uma branca para o Alto Egito e uma vermelha para o Baixo Egito. Depois deste, as duas dinastias iniciais fixaram capital em Tínis, tendo Abidos por necrópole. A monarquia de direito divino localiza-se, neste período, entre 3200 e 2800 a. C, tendo os reis Djet e Udimu lançado expedições de tipo militar contra os beduínos do Sinai, e comerciais no mar Vermelho. Os últimos soberanos, contudo, localizaram as suas tumbas na zona de Sakarah (Mênfis), numa tendência óbvia de transição da capital de sul para norte.
A decadência surge no período entre a IV e a X dinastias, cerca de 2400 a 2280 a. C. O reinado de Pepi I ainda é glorioso fruto, sobretudo, das campanhas e expedições lideradas pelo seu ministro Uni na região núbia. Pepi II, seu filho, protagonizou um erro significativo ao reinar 94 anos; este período caracterizou-se por um enfraquecimento progressivo do estado, agravado pelas incursões beduínas, pela crescente importância e independência dos monarcas, líderes das circunscrições territoriais, e por uma pouco clarificada revolta e tensão social entre pobres e ricos. Em 2280 a. C. o Egito é um espaço fragmentado: o Delta, invadido pelos asiáticos, Mênfis, local de sobrevivência da velha dinastia, Heracleópolis, com um monarca independente, e a sul Tebas, onde os reis Antef (X dinastia) dominam todo o Alto Egito.
Após um período de confusas lutas, a vitória dos tebanos sobre Heracleópolis cria uma nova unidade. A XI dinastia, de base tebana, simbolizada por Mentuotep, estende o seu domínio a todo o país, sobretudo a partir da vitória sobre os beduínos, cerca de 2065 a. C., inaugurando um novo período, cujo apogeu se situa sob a XII dinastia, a dos Amenemat, e dos Senusret, entre 2000 e 1788 a. C., pouco antes do reinado de Hamurábi.
Este período fica marcado por assinaláveis progressos e inovações. Tebas, a 1000 quilómetros do mar, é agora a capital administrativa e religiosa do país, longe da ameaça de beduínos e asiáticos, embora os túmulos reais se localizem em Iket-Taui, próximo de Dachur, nas cercanias de Fayum, no deserto a oeste. O lago Méris encontrava-se dominado pela ação das drenagens, irrigações e colonização, sendo uma das obras máximas do regime. A luta contra as usurpações dos monarcas conhece um limite final com a intervenção de Senusret III, com a supressão temporária do cargo, que é destituído do seu cariz feudal e hereditário de forma definitiva. A administração é então centralizada e profundamente reorganizada. A população passa a ser alimentada e sustentada, em parte, pelo Fayum e pela política dos grandes trabalhos, tendo acesso oficial, inclusive, à igualdade religiosa, o que é visível na proliferação de sepulturas de tipo individual, bem como à instrução, com a direta criação da classe dos escribas. Do ponto de vista da estratégia económica e política, o Egito estende influências até à Síria e, provavelmente, até Creta, por intermédio da Fenícia, que está sob governação de um egípcio. De igual modo são criadas diversas fortificações no Delta, a oriente, contra os beduínos, e no vale, a sul, contra a Núbia, cuja região é conquistada parcialmente até à segunda catarata.
Esta política de cariz unificador, grandiosa, é expressa de igual modo na ascensão dos deuses de Tebas. Os deuses locais, Min de Coptos e Mentu de Hermonte, foram suplantados por Amon de Hermópolis, adotado pela XII dinastia e assimilado ao Rá de Heliópolis. O deus Amon-Rá é então o deus supremo do panteão egípcio, concedendo o seu patrocínio aos empreendimentos realizados pelos soberanos, numa ação que trará vantagens óbvias aos seus sacerdotes, hábeis administradores e políticos.
A partir do final século XVIII a. C, sobretudo com a chegada das grandes invasões protagonizadas pelos hicsos, assiste-se a um período de profundas modificações, impelindo a criação de um mundo novo, onde as monarquias não podiam continuar a viver em compartimentos fechados.
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Como referenciar
Porto Editora – Nilo: Berço de uma Civilização (3000-1560 a. C.) na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2025-04-18 05:47:42]. Disponível em
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